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quinta-feira, 10 de agosto de 2017

E QUEM SABE DIZER O QUE É A FELICIDADE?

     Ao fazer doze anos de idade tive uma certa infelicidade de ter que mudar de casa, de endereço, haja vista que o imóvel que morávamos, eu e minha família, foi vendido a terceiros, e não tínhamos a mínima condição de adquirí-lo. Então o jeito foi ir morar num bairro mais afastado do centro da cidade, que naquela época era ainda muito atrasado, em relação ao local que morávamos, até então.
     Mas a infelicidade daquela hora transformou-se num felicidade extrema, porque, mesmo guri, descobri que possuía um espírito mais rural do que urbano. E nesta última localidade, a situação mudou para melhor, porque a região possuía muitos espaços verdes, apesar da rua ser de barro, diferente da anterior onde morava. 
     E mesmo numa cidade grande como a do Rio de Janeiro, a periferia constituía-se em regiões de maiores espaços verdes, diferentemente daquelas mais próximas do dito centro da cidade. Inclusive a água para consumir era oriunda de um poço. Mas a qualidade dela era de primeiríssimo nível, o que hoje classificamos como 'natural", sem passar pelos tratamentos comuns que se dão nesta água que a população ingeri no seu cotidiano.
     E acostumado que era só em conviver com asfalto, carros, movimentação extrema, fui viver num lugar mais calmo, mais próximo do que chamamos de 'natureza', o que é muito mais positivo para um humano do que viver num centro movimentado e poluído como o das grandes cidades de um país.
     Para a minha felicidade, esta região possuía muitas áreas verdes, que serviam de pasto para animais. Mas também para várias práticas de lazer. E a do futebol era uma das mais realizadas, principalmente pela garotada, que se esbaldava em peladas diárias, sem fim, descompromissadas de tudo e de todos.
     Lá havia pessoas que criavam diversos animais. Desde gatos, cachorros e galinhas, mas também havia alguns que possuíam cavalos e gado. E bem defronte de onde morávamos, uma família possuía um curral com cerca de seis ou sete vacas leiteiras, o que proporcionava à vizinhança, consumir leite natural, sem nenhum beneficiamento do que é feito nesses tempos modernos.
     Um dos vizinhos, gostava de cavalos. Os usava para atrelá-los à carroça, para serviços de transporte de carga, bem como usava sela para passeios equestres. E foram muitas as vezes em que peguei carona nesse tipo de divertimento, também cavalgando cavalos que nem eram meus.
     Outro dos vizinhos era aficionado por criação de galo de briga. Inclusive todo final de semana promovia encontro entre amigos que apreciavam esse mesmo tipo de criação, mas elaboravam rinhas de lutas entre tais galos. E isso era quase que uma coisa séria entre eles, com apostas em dinheiro.
     O interessante nessas situações era a de se sacrificar o galo que por ventura perdesse uma das brigas. Então, ele virava cozido. E a diversão rolava solta, nessas oportunidades. A iguaria atendia ao gosto de todos ali reunidos. Era uma confraternização geral e coletiva.
     Uma das coisas que fazia era criar passarinhos. Possuía coleiros, canários da terra e belga, sendo que destes, tirava cria de forma fácil e costumeira. Era um prazer enorme vê-los cantando na varanda da casa, onde ficavam a maior parte do dia e do tempo. Hoje tal hobby é bastante restrito para quem gosta de criar pássaros.
     Aliás, esses tempos modernos são, na verdade, um tremendo sofrimento para aqueles que já estão na terceira idade. Depois da criação do tal de "politicamente correto", muita coisa que fazíamos em nossa juventude, são até proibidas de serem realizadas. Fazer o quê?
     Mas a diferença maior entre aqueles tempos e os de hoje, podemos situá-las
no fator 'estupidez humana'. Porque anda se vegetando muito mais do que vivendo. O ser humano estupidalizou-se de  forma absurda, a ponto de viver aprisionado e escravizado à situações esdrúxulas, mas não possui a mínima condição de percebê-las. Daí que, hoje, os fonoaudiólogos, assistentes sociais e psicólogos, possuírem o enorme privilégio de terem emprego pelo resto de suas vidas.
     Então, o que é que se pode dizer para os mais novos? Simples: Nós éramos muito mais felizes do que somos, hoje!

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