Em uma outra ocasião aqui neste mesmo espaço desenvolvi uma crônica onde dizia tirar o chapéu para a prima Lourdes. Uma mulher de alto valor, na época já alcançando os oitenta anos. E agora, aqui, desenvolverei uma outra assertiva, para falar de Mirtes, também enquadrada nessa mesma classificação de mulher valorosa.
É necessário dizer que já não se faz mulher, atualmente, como essas duas, porque tudo mudou de umas décadas para cá na constituição feminina, principalmente no tocante à mulher do lar, aquela que cuidava da família sob todos os aspectos. E que muitas delas também trabalhavam fora, assim como as mulheres ditas modernas. Com a diferença de que estas, já não querem saber disso.
Mirtes, vinda de uma cidade do interior de São Paulo, em busca de duas felicidades. A de reencontrar seu grande amor e de ter uma vida junto a ele, até que a morte os separasse. E isso deu-se, com certeza, até nessa última quinta-feira, quando, infelizmente, o José, seu grande amor, faleceu por motivos de doença.
Minha convivência com José era um tanto quanto espaçada. Víamos uma ou duas vezes por ano, mas quando isso acontecia, a impressão era de que convivíamos diariamente, tal a consideração que tínhamos. José era oriundo de Sergipe, da cidade de Lagarto, a mesma origem de meus país. Mas nos conhecemos há mais de cinquenta e cinco anos, aproximadamente.
E apesar de não possuirmos consanguinidade, éramos ligados familiarmente porque tínhamos uma tia em comum. Ela, irmã do pai de dele e casou com um tio meu, irmão de meu pai. Mas a atração entre nós, poderia se dizer sobrenatural, daquelas que não se consegue explicar com palavras.
O que me impressionava (e impressiona ainda) em Mirtes é a sua coragem e desenvoltura. Poderia ser considerada "pau pra toda obra", quando queremos nos referir à pessoa muito trabalhadeira. Assim é ela. E assume quase todas as responsabilidades da casa, incluindo-se aí o cuidado com os filhos, três, sendo um homem e duas mulheres. Destas, uma é especial, necessitando de cuidados mais apurados. Mas isso não foi bastante para lhe desanimar, até muito pelo contrário. E já são todos adultos, hoje.
E mesmo a vendo bissextamente, diga-se, não era difícil percebê-la sempre atuante. Muito animada, sem desanimar fosse lá em que situação. Um real exemplo de pessoa persistente e resistente. A tudo e a todos. E os últimos meses de vida de José foram a prova dessa sua valorosa existência. Carregou o fardo pesado, e sem reclamar. Até o fim.
Um fato interessante que percebi e observei nela foi através da minha pagina do Facebook, onde ela consta, quando frequentemente mandava citações à filha, que está vivendo em São Paulo por causa de um curso que faz, e sempre registra apoio a um possível desânimo da moça.
Nessa ocasião lembro de minha própria mãe, que quando eu ia sair de casa, recomendava-me de forma apurada, como se eu ainda fosse um menino. Isso é coisa de mãe que realmente se preocupa com os filhos e suas criações, coisas que nestes dias modernos, também, já não anda acontecendo.
Por fim, há que se registrar o seguinte: Mirtes praticamente fugiu de casa, quando ainda era bem jovem. E veio em busca de seu grande amor, José. Este fazia estudos católicos em sua cidade. E terminando aquele estágio de preparação para a vida de padre, voltou à cidade do Rio de Janeiro.
E algum tempo depois, com quem se depara o José? Ali, em sua presença, de corpo, alma e bagagem. Sim! Com Mirtes. Lhe afirmando que tinha vindo em busca de sua felicidade e não arredaria pé. Nem dali e nem dele. E o José, felizmente, sucumbiu a tal pressão. Casou-se com a Mirtes. E viveram felizes para sempre! Apenas a chamada Daquele ao qual serviu por anos, pôs fim a tão extraordinária convivência.
* Em tempo: não gostaria de ver ninguém, hoje, nessa situação que ela esbarrou. A morte de José representou para ela a maior perda de algo que pode acontecer na vida de uma pessoa. Mas como ela é uma mulher de muita fibra, passará por essa dor, com certeza. E inteira. Porque a valentia que carrega em si é intrínseca à sua própria vida.